quinta-feira, 2 de maio de 2013

Crítica- Os Mercenários 2

A história pode ser dividida em três missões. A primeira acontece na Ásia e mostra Arnold Schwarzanegger de volta e a despedida de Jet Li, que diz adeus prometendo uma possível aposentadoria. Durante as comemorações de mais um trabalho bem executado vem a parte dramática, com o jovem sniper (Liam Hemsworth, que apesar de ser irmão do Chris Hemsworth é a cara doChris Pine) dizendo que aquela vida não era para ele, mas que vai "cumprir o aviso prévio", ficando com o grupo até o final do mês. Sobe a música para mostrar um Sylvester Stallone pensando nos amores que deixou para trás e nos dias que não voltam mais. A segunda missão é um "pedido" de Bruce Willis e levará o grupo para o Leste Europeu, onde nem tudo sairá como planejado. Para encerrar da melhor forma, a última missão é pessoal. Afinal, nada mais macho oitentista do que uma vingança.
Durante as cenas de ação há espaço para todo mundo brilhar, mesmo que por alguns fotogramas apenas. Terry Crews Dolph Lundgren fazem cara de mau enquanto atiram, Stallone dá as ordens e Jason Statham mostra que um dos poucos do grupo que ainda continua em forma. A Randy Couture - coitado - sobram poucas cenas e algumas cotoveladas na cara dos adversários.
Pesam contra os atores, além da idade, uma computação gráfica pouco melhor da que era utilizada nos anos 1980, com elementos visivelmente criados por pixels e que atrapalham um pouco a diversão. Não ajuda em nada também a fotografia, que é excessivamente granulada em algumas horas, volta ao normal em outras e depois volta às penumbras, dando um tom "direto para VHS" que foi e é a realidade da maioria destes atores quando não estão trabalhando em Os Mercenários, incluindo nesta lista até mesmo o ex-astro belga Jean-Claude Van Damme, que mantém a agilidade e os músculos de Bruxelas, mas apresenta um rosto todo desfigurado.
Sorte que, por outro lado, temos um texto divertidíssimo e que se derrete em reverência aos astros. Schwarzenegger é uma metralhadora de frases de efeito ("I'll be back", "Yippee-ki-yay", "Só falta o Rambo", "Nós deveríamos estar em um museu"), Crews lembra seus dias de pai do Chris e, o que é melhor, sobra espaço até para um Chuck Norris Fact na primeira aparição daquele que só foi vencido porBruce Lee (que morreu logo depois, diga-se de passagem). Não há prova maior da ironia pregada pelos roteiristas do que o personagem de Jean-Claude Van Damme, o vilão chamado... Villain!
Ou seja, não vá ao cinema esperando inteligência, coerência ou esmero técnico. Os Mercenários 2 é o tipo de filme que faz brotar um Chuck Norris sempre que a situação parece irreversível para os velhos "mocinhos". E quando ele entra em cena é um frenesi só. Surge para arrancar aplausos dos jovens que rebobinaram muita fita VHS nos anos 80 e hoje beiram os 40 anos mas ainda se divertem com a calma com que ele atira sem errar (e sem precisar recarregar suas armas). Agora ele já pode somar mais um #chucknorrisfact para a sua lista: Chuck Norris não se aposenta, ele sai de férias para o Leste Europeu e sem se cansar salva Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis, Dolph Lundgren, Randy Couture, Jason Statham e uma chinesa feia pra caramba.

Crítica- Os Marcenários

Não é todo filme que estreia cercado de polêmica ou expectativa. Quando ela é positiva, periga o crítico ser tendencioso ou se decepcionar. Se negativa, podem até pintar surpresas. Os Mercenários chega seguido de uma declaração (imperdoável) de seu diretor, Sylvester Stallone, sobre o Brasil. Apesar da torcida para que fosse um tremendo mico, a crítica que você vai ler (se tiver na disposição) não vai poder trucidar o filme porque, dentro da proposta, até que ele é legal. 

Na história, um grupo liderado pelo personagem de Stallone é recrutado para salvar um pequeno país das mãos de um ditador e um vilão (o eterno Eric Roberts) que tocam o terror, o tráfico de drogas, e ainda entristecem uma mocinha (!) idealista (Giselle Itiê).

Tá bom que o roteiro é fraco, mas não tem como negar a presença de elementos clássicos dos filmes de ação dos anos 80/90. Sem contar que com a premissa inédita de reunir atores/ícones, a produção apresenta Jet LiJason StathamDolph LundgrenMickey Rourke, e ainda Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis. Senti falta "apenas" deChuck NorrisJean-Claude Van Damme e Steven Seagal com seu indefectível rabinho de cavalo. (risos) 

De qualquer forma, só este encontro já foi legal. E embora a reunião do trio de rugas (Sly, Willis e Arnie) seja pequena, ela é antológica e revela uma característica do filme: o deboche. Salvo algum erro de visão e audição do autor destas mal traçadas linhas, o longa é debochado pacas. Ajuda a explicar o infeliz comentário do diretor na entrevista.

Afinal, o que dizer de um avião disfarçado de entidade ecológica cujo símbolo é um corvo sobre o mundo?!? Nos diálogos, o escárnio é constante e, curiosamente, misturam vida real e ficção. No tal encontro dos três, o personagem de Sly se refere ao de Arnie dizendo "éramos do mesmo time" e o outro retruca "ele gosta de selva", numa clara alusão aos filmes de ação que ambos faziam (separados) em contraponto ao cargo de governador e ao personagem Rambo. 

Jet Li foi chamado de baixinho o tempo todo e o dublê de ator e lutador Randy Couture ouviu piadinha sobre a sua "orelha de repolho" e, no final, seu nome foi objeto de trocadilho quando o personagem de Statham brinca com a expressão "call Tool" (Rourke). 

Os Mercenários reúne ainda outros caras mais pesados egressos dos ringues como Steve Austin (que protagoniza duelo ímpar com Sly), o brasileiro Rodrigo Minotauro e ainda o ex jogador de futebol americano Terry Crews, entre outros. Para a turma que gosta de ação, o filme é uma porrada já na cena inicial. Aliás, esqueça que a maioria delas aconteça no escuro e lembre-se que são muitas, deliciosamente exageradas e com coreografias criativas, misturando golpes, tiros e facas.

Em termos de previsibilidade o longa é campeão. Tem cena típica como cordão arrancado de pescoço, historinha de amor e de rejeição como pano de fundo com direito a frases de efeito, mas não passa disso. A cena da tatuagem é pra lá de ridícula e dispensável. Por outro lado, o ataque aéreo foi mentiroso, mas sublime. Daqueles que você fica torcendo.

Lógico que vai ter um monte de gente torcendo o nariz (a boca o Stallone já faz) porque Os Mercenários não diz nada. Mas quem busca reflexões de Kafka num filme assim, cá entre nós, está absurdamente equivocado. O título já diz tudo e a música do roqueiro Thin Lizzy complementa, "The boys are back in town", encerrando a "brincadeira" na sala escura. Tem fôlego para uma continuação.