sexta-feira, 25 de maio de 2012


Eu quero um ovo de codorna pra comer
O meu problema ele tem que resolver (bis)
Eu tô madurão
Passei da flor da idade
Mas ainda tenho
Alguma mocidade,
Vou cuidar de mim
Pra não acontecer
Vou comprar ovo de codorna
Pra comer
Eu quero um ovo de codorna pra comer...
Eu já procurei
Um doutor meu amigo
Ele me falou
"Pode contar comigo"
Ele me ensinou
E eu passo pra você
Vou lhe dar ovo de codorna pra comer
Eu quero um ovo de codorna pra comer...
Eu andava triste
Quase apavorado
Estavam me fazendo
De um pobre coitado
Minha companheira
Tá feliz porque
Eu comprei ovo de codorna pra comer
Eu quero um ovo de codorna pra comer
O meu problema ele tem que resolver.

A Dança da Moda

Luíz Gonzaga

No Rio tá tudo mudado
Nas noites de São João
Em vez de polca e rancheira
O povo só pede e só dança o baião
No meio da rua
Inda é balão
Inda é fogueira
É fogo de vista
Mas dentro da pista
O povo só pede e só dança o baião
Ai, ai, ai, ai, São João
Ai, ai, ai, ai, São João
É a dança da moda
Pois em toda a roda
Só pede baião.

Quando "oiei" a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "prantação"
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Quando o verde dos teus "óio"
Se "espaiar" na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração.

O Xote Das Meninas

Luíz Gonzaga

Mandacaru
Quando fulora na seca
É o siná que a chuva chega
No sertão
Toda menina que enjôa
Da boneca
É siná que o amor
Já chegou no coração...
Meia comprida
Não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado
Não quer mais vestir timão...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...
De manhã cedo já tá pintada
Só vive suspirando
Sonhando acordada
O pai leva ao dotô
A filha adoentada
Não come, nem estuda
Não dorme, não quer nada...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...
Mas o dotô nem examina
Chamando o pai do lado
Lhe diz logo em surdina
Que o mal é da idade
Que prá tal menina
Não tem um só remédio
Em toda medicina...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...
Mandacaru
Quando fulora na seca
É o sinal que a chuva chega
No sertão
Toda menina que enjôa
Da boneca
É sinal que o amor
Já chegou no coração...
Meia comprida
Não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado
Não quer mais vestir timão...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...
De manhã cedo já está pintada
Só vive suspirando
Sonhando acordada
O pai leva ao doutor
A filha adoentada
Não come, num estuda
Num dorme, num quer nada...
Porque ela só quer, hum!
Porque ela só quer
Só pensa em namorar...
Mas o doutô nem examina
Chamando o pai do lado
Lhe diz logo em surdina
Que o mal é da idade
E que prá tal menina
Não tem um só remédio
Em toda medicina...
Porque ela só quer, oh!
Mas porque ela só quer, ai!
Mas porque ela só quer
Oi, oi, oi!
Ela só quer
Só pensa em namorar
Mas porque ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...



Biografia de Luiz Gonzaga.

Biografia por Állan Matos.

          Foi numa Sexta-feira, 13 de Dezembro de 1912, lá prasbandas do Exu, a 700 km de Recife, numa casa de barro batido, no Sítio Caiçara, nascia Luiz Gonzaga, o segundo filho de Ana Batista de Jesus (Dona Santana) e Januário José dos Santos.
          A escolha do nome de Gonzaga, foi diferente dos oito irmãos, denominados: João, Joca, José, Severino, Aluizio, Socorro, Geni e Chiquinha. Ele deveria se chamar Januário, sobrenome do pai, mas um fato impediu que isto acontecesse. Naquela madrugada de calor, Januário foi para o terreiro da casa, onde soprava o cantarino que vinha do sovaco da serra. Correu uma "zelação" pelo céu, estrela de luz cadente, o velho toma um susto. Santana dá a luz a e o marido desentaboca um tiro de garruncha para anunciar o nascimento do filho, é dia de Santa Luzia e mês que se comemora o nascimento de Cristo. Por nascer no dia 13 o pai dá o nome Luiz em homenagem ao santo do dia e durante o batizado por sugestão do vigário acrescenta-se ao nome Luiz o sobrenome Gonzaga para completar o nome do santo e, ainda, o sobrenome Nascimento por ser o mês do nascimento de Cristo.
          Aos sete anos de idade já pegava na enxada, nas horas de folga, ouvia com atenção os sons tirados da sanfona pelo pai, e com dez anos já animava sambas ao lado de Januário, em vários terreiros do Sertão do Araripe. Como todo adolescente, em suas diversões havia também os banhos de rio, as caçadas, osanimados dias de feira e o sonho de um dia entrar para o bando de cangaceiros do capitão Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Assim cresceu o filho de Januário, agora sobre a proteção do fazendeiro Manoel Aires de Alencar. As filhas do patrão lhe ensinaram as primeiras letras, a falar corretamente e a comer com talheres. Mais tarde com a ajuda do Senhor Aires, Luiz consegue comprar sua primeira sanfona da marca Veado em Ouricuri-PE.
          O maior desejo de Gonzaga era a música, era ser artista. E este impulso aflora ainda mais quando retornava dos bailes em Granito, Baixio dos Doidos, Rancharia e Cajazeira do Faria, onde ia apé, percorrendo doze léguas de ida e doze de volta no compasso da "pataca cruzada" das alpacartas de rabicho e da roupa de brim azul, que lhe enchia de orgulho quando se apresentava nas festas.
          Aos dezessete anos Luiz Gonzaga apaixonou-se por Nazarena Milfont (Nazinha), menina de posses pertencente a uma tradicional família de Exu, mas logo o namoro foi proibido, pois para o pai da menina ele não passava de um tocadorzinho. Gonzaga chateado decidiu desafiá-lo, comprou uma faca, tomou umas e outras e saiu para conversar com Coronel Raimundo Diolindo que deu o dito pelo não dito. Enquanto ele se gabava com os colegas, seu Raimundo foi procurar Santana e disse que só não tinha matado Gonzaga por ser seu filho. Quase sem acreditar no que estava ouvindo, Santana procura apoio e segurança nos braços de Geni, sua filha mais velha. Indignada, só pensava em voltar para casa o mais depressa possível. Anoitece e os céus de Exu entoam a ave-maria, meio desconfiado e já pressentindo maus momentos, Gonzaga retorna para casa. Santana Está refugando com Januário e o filho não percebe que ela está muito nervosa, segurando uma forte chibata de jumento. De porta trancada, inteiramente possuída pelo rancor, baixa a chibata no rapaz, ajudada por Januário. Quando finda a sessão de pancadaria, com o lombo ardendo do relho, fugiu para o mato. Por quase uma semana, viveu como bicho do mato, no matagal da Serra do Araripe, enquanto curava as dores da alma e do corpo. Sem conversar com ninguém, apenas medita sobre os rumos de suas futuras estradas. Numa sombria manhã de Domingo ainda recentido pela implacável punição, para ele um justo castigo, faminto e sedento, resolve voltar para casa, acontece o primeiro "olho no olho" com Santana e logo percebe em seus pesarosos olhares, sinais de arrependimento. Luiz Gonzaga mente para a mãe dizendo ter sido contratado para a feira de Crato-CE. Envergonhado de tudo e depois da rápida conversa com a mãe, parte para o Crato deixando para trás seus amigos e o ser primeiro grande amor. Chegando no Crato pega o trem para Fortaleza, onde voluntariamente alista-se no exército. Um ano depois estoura a revolução no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba; o então soldado número 122, corneteiro, segue com o 22.º Batalhão de Caçadores para Souza-PB, ainda em missão segue para o Pará, Ceará, Piauí, para o interior do Rio de Janeiro, belo Horizonte e Campo Grande. Ganha fama no exército e um apelido : bico de aço, por ser um excelente corneteiro. Em Minas conhece Dominguinhos Ambrósio, sanfoneiro que também estava no exército e com quem estudou e aprendeu as músicas mais populares de então. Foi transferido para outra cidadezinha mineira, Ouro Fino, chegando lá se apresentou como sanfoneiro num clube local.
          Em 1939 deixa o exército, o então aventureiro segue para São Paulo. Disposto a comprar uma sanfona nova, nesse mesmo ano volta para o Rio de Janeiro, onde daria baixa no exército, passando a se apresentar nos bares cariocas do mangue, tocando fados, foxes, valsas e tangos, em dupla com o guitarrista português, Xavier Pinheiro. Atuava também em cabarés da Lapa e festinhas, além de tocar na rua passando o pires para recolher o dinheiro.
          Em 1940 começa a apresentar-se em programas de rádio como calouro, nos programas de: Silvinho Neto e Ari Barroso, apresentando um repertório estrangeiro, foi muito criticado e satirizado, um início muito difícil e sem êxito até o dia em que um grupo de estudantes cearenses comentou que ele deveria se voltar para as músicas do sertão Nordestino. Iniciando-se assim a mais sólida trajetória da música popular brasileira. No programa de Ari Barroso, cantou um chamego de sua própria autoria o "vira e mexe" obteve grande sucesso. A partir daí com a boa receptividade, passou a participar de vários programas de rádio e em 1941, depois de acompanhar Genésio Arruda em gravação, foi convidado a gravar como solista, aceita e dá-se bem. Lançou dois discos pela Victor com uma mazuca, "véspera de São João", duas valsas, numa serenata, "saudades de São João Del Rei" e o "chamego" de sua autoria. Neste mesmo ano seria contratado pela rádio clube do Brasil, mantendo um bom número de participação na rádio de então.
          Um pouco mais tarde se transferiria para Rádio Tamoio, continuando a gravar como sanfoneiro na Victor. Em 1943 conseguiu grande êxito com "chamego" uma parceria com Miguel Lima e gravada por Carmem Costa. Todo mundo queria saber o que era o chamego, pois não sabiam se era branco, mulato ou negro. Já era lua ousando em cima de temas populares. Pois nesta época também gravaria pela primeira vez como cantor, lançando a mazurca "dança mariquinha". Outra parceria com Miguel Lima.
          Em 1944, há outra mudança, é despedido da Rádio Tamoio, e imediatamente foi contratado pela Rádio Nacional, onde então, o radialista Paulo Gracindo o apelidou de "LUA", por causa do seu rosto redondo. O velho Lua, sanfoneiro arretado de bom continuou compondo com Miguel e conseguindo mais sucesso com as músicas: "dizessete setecentos", um calango gravado pelo cantor Manezinho Araújo.
          Em 1945 tornou-se parceiro de Humberto Teixeira, com quem compôs vários dos maiores sucessos de sua carreira. A lista é comprida. Enverga desde "Baião" lançada pelos Quatro Ases e um Coringa, em 1946, com Humberto Teixeira, compõe e grava a primeira de uma série de dezoito parcerias: "NO MEU PÉ DE SERRA", o sucesso é imediato e o seu nome começa a correr o mundo: Europa, EUA, Japão... além de "NO MEU PÉ DE SERRA", com Teixeira compôs, entre outras , "BAIÃO", "ASA BRANCA", "JUAZEIRO", "LÉGUA TIRANA", "ASSUM PRETO", "PARAÍBA" e "RESPEITA JANUÁRIO". Em março de 1947 grava Asa Branca, um de seus maiores sucessos que praticamente veio descontinuar as marzelas nordestinas e quase ganhou gravação dos Beatles.
          Além de Nazinha, nomes como: Maria do Egito, Wilma, Odaléia, Santa, Isis, Maria dos Anjos e muitos outros marcaram a vida do cantor. Entre amores passageiros, nascidos da boêmia, e aqueles assumidos formal ou publicamente, em suas andanças como artista cultivou grandes paixões. Paixões estas que mais tarde foi presenteado. Odaléia uma mulher que foi durante muito tempo sua amante, lhe deu um filho o qual por sugestão do pai passou a ser chamado de Luiz Gonzaga do Nascimento Junior ( Gonzaguinha), e como filho de peixe, peixinho é, este mais tarde de tornaria uma das maiores expressões da música popular brasileira, e ainda neste mesmo ano já separado de Odaléia, no auge do sucesso, Luiz Gonzaga conhece a pernambucana de Gravatá, Helena Neves Cavalcanti, contadora de uma firma carioca. O encontro foi na Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, onde ela esteve acompanhada de sua mãe Mariêta, em visita ao cantor confessando ser uma das suas grandes admiradores, daí surgiu o namoro, que durou até 16 de julho de 1948, com o casamento dos dois, após ter recebido aprovação de Santana. Esta convivência durou 40 anos apesar de ser uma relação muito difícil, inclusive por conta da presença de sua sogra Mariêta, que passou a morar na companhia do casal até sua morte, interferindo negativamente na vida dos dois, mas Lula soube suportar pacientemente. Outro problema enfrentado por ele no início do casamento foi em relação a Gonzaguinha, Helena recusa-se a criar o mesmo após morte de Odaléia. A outra filha Rosinha foi adotada por imposição de Helena e contra a vontade de Gonzaga. O pai adotivo e Rosinha nunca tiveram um bom relacionamento.
          Em 1949, lançou com Humberto Teixeira uma composição de destaque, "Mangaritiba" e depois Paraíba e Baião de Dois. Nessa mesma época, já em Recife, conhece um novo parceiro o médico José de Souza Dantas ( Zé Dantas ), com quem Lua também assina um bom número de sucessos, começaram com "Cintura Fina" e a "Volta da Asa Branca". Três anos mais tarde lançaram "ABC do Sertão" e ainda "Algodão", "Vozes da Seca" e "Paulo Afonso" era a década de ouro do baião. Luiz Gonzaga no auge, com enorme popularidade é consagrado Rei do Baião, gênero que praticamente introduziu e mais do que ninguém divulgou o Baião no centro-sul do país.
          Em 1961 participa da festa de São João, no América Futebol Clube, entra para a Maçonaria e junto com Lourival participa de uma caminhada da paz em homenagem a Jânio, Presidente da República. Daí em diante começaria a se afastar do cenário artístico, preferindo refazer o velho caminho. Voltava a se apresentar em cidades do interior, onde continuava muito popular. Em 1962, morre o seu parceiro Zé Dantas, mesmo com a bossa nova e as tendências estrangeiras troando nas rádios, Luiz Gonzaga não perdia a sua pose de Rei. Gilberto Gil citou-o como uma das suas principais influências, ainda no início da sua carreira. Em 1963 conhece o cearense Patativa do Assaré de quem no ano seguinte grava " A TRISTE PARTIDA" sua música predileta a qual ele cita numa entrevista ao jornal Diário do Nordeste.
          Durante a década de 70 chegou a ter várias músicas gravadas por outros artistas como: Caetano Veloso, que regravou "Asa Branca" e em março de 1972 fez um show no Teatro Tereza de Raquel- Rio de Janeiro - enfrentando uma platéia formada basicamente de estudantes e artistas . Responsável pela valorização da música nordestina, principalmente o baião, atravessara mais alguns anos para explodir mesmo em pleno êxito anos 80.
          Em 1975, num vôo Recife - Brasília, finalmente Gonzaga selou o seu grande último amor, Maria Edelzuita Rabelo, natural de São José do Egito, no Sertão Pernambucano. Ambos haviam se conhecido em 1968, num casamento matuto em Caruaru, quando era a suposta noiva de Otrope, parceiro do conhecido "Coronel Ludugério" e ele o juiz. Mas foi na escala demorada em Salvador que os dois se apaixonaram, começando um romance que ficou no anonimato durante 13 anos.
          Em 1980 em Fortaleza canta para o João Paulo II, que lhe agradece "OBRIGADO CANTADOR". Fica agradecido. Em 1981 recebe os dois únicos discos de ouro de toda a sua carreira . Em 1982 decide voltar para sua terra natal e adotando o slogan O Rei Volta Para Casa, realiza uma das maiores festas que o povo de Exu jamais vira. O show foi realizado no Parque Asa Branca com a presença de vários artistas famosos como Elba Ramalho, Fagner e outros. Às apresentações de palco iniciaram-se às 22:00 horas do dia 12 de Dezembro e às 24:00 horas no meio do silêncio começou a queima de fogos e logo em seguida todos juntos artistas e povo de Exu cantam a música de parabéns passagem do seu septuagésimo aniversário. Em 1984 é agraciado com o troféu Nipper de Ouro. Em 1986 vai à França e no dia 06 de julho participa de um espetáculo que reúne cerca de 15 mil pessoas no Halle de La Villete, ao lado de Alceu Valença , Fafá de Belém, Morais Moreira e Armandinho, entre outros artistas brasileiros que integram os Coleurs de Brésil.
          Em 1987 atendido pelo médico Amauro Medeiros, depois de vários exames é constatado e histologicamente comprovado o câncer, um carcinoma de próstata imediatamente comunicado a família. Em 1988 o velho Lua, toma a decisão de deixar Helena e no início da doença que o levaria a morte. Passa a dormir sozinho em um dos apartamentos do parque, porque não aguentava mais subir as escadas do seu quarto, no casarão. As dores nas pernas iam a cada dia tornando-se mais frequentes, deixando-o noites em claro sem dormir. E nestes momentos de muita dor e sofrimento que o velho Lua com o coração apertado de saudades de Edelzuita, mesmo com um mal que não conseguia lhe dominar dava umas fugidinhas até o posto de serviço para falar com "meus amor" - como dizia ele. Este mesmo período coincidiu com a doença dela, cujo diagnóstico foi leucemia crônica e não suportando a saudade, a distância e preocupado com a saúde de Edelzuita, além de haver agravado sua enfermidade, o velho cantador resolve romper todas as barreiras e muda-se de vez para o edifício Cerejeira, em Boa Viagem, Recife. Chega dizendo a Edelzuita - "vim cuidar de você, e você cuidar de mim". Assume publicamente a nova mulher, com quem viveu os grandes momentos de sua vida. Um amor sofrido, resignado, "escondido do mundo" de feito de altos e baixos, mas marcado por emoções fortes principalmente quando estavam juntos feito dois adolescentes apaixonados e esquecidos das barreiras que os separavam. Já no fim da vida Gonzaga lamentava não ter tido a coragem de assumi-la, antes por conta de preconceitos e medo de ser submetido aos mais diversos julgamentos.
          Dia 06 de junho de 1989 às 22:00 horas, pálido numa cadeira de rodas, ao lado da mulher Edelzuita e do médico particular Paulo Almeida, Gonzaga vestido a caráter, de chapéu de couro e gibão, chega ao Teatro Guararapes, no Centro de Convenções de Pernambuco, para o último show da sua carreira, cansado e com progressiva perda de memória, já não lembrava se quer de "Asa Branca" um dos primeiros sucessos. Mas era visível naquele momento, a preocupação dele em falar, expressar sua gratidão aos amigos e ao povo que tanto admira - "meus amigos, terminou mais eu quero dizer algumas palavras. Agradeço ao meu querido amigo e professor Aldemar Paiva . Tem outro nome que eu não vou esquecer nunca: Dominguinhos, Waldonys, sanfoneiro da nova geração, Pinto do Acordeon e toda essa turma boa do nordeste. Ninguém vai acabar com o forró. Não vai, porque essa é a música do povo". Quando falou de Exu sua terra natal caiu no pranto. Exu berço do Gonzagão e do forró de pé de serra.
          A certeza do Rei do Baião infelizmente não se concretizou: ficou apenas em sua vontade de viver e continuar cantando. A noite do adeus a última presença física no palco.
          Na quarta-feira 21 de junho , às 10:00 horas o velho Lua é levado às pressas ao Hospital Santa Joana. Permanecendo internado quarenta e dois dias na UTI, os contratos para a temporada que faria em Pernambuco, Paraíba e Ceará foram todos canceladas. Nos momentos de dor e sofrimento, Gonzaga preferia cantar suas antigas canções, Mesmo na unidade de tratamento intensivo, poucos dias antes de morrer preferiu trocar seus gemidos por estridentes e prolongados aboios que ressoavam pelos corredores, depois dava uma olhadinha para os outros doentes que estavam na UTI, desculpava-se humildemente - "vocês não me levem a mal. Sinto muitas dores gosto de aboiar quando deveria gemer".
          Uma pneumonia contraída devido a debilidade física em que se encontrava o cantor e compositor, além da osteoporose que já o afligia, encerrou às 5 horas e quinze minutos do dia 02 de agosto de 1989 a vida, aos 76 anos, o nosso maior cancioneiro Luiz Gonzaga. Seu último suspiro foi ao lado do seu último grande amor Edelzuita. Logo em seguida o corpo do velho cantador é colocado numa ambulância e é levado para o Hospital Osvaldo Cruz a fim de ser formolizado. Do hospital o povo de Recife presta sua última homenagem, saem num cortejo de 15 quilômetros a pé pelas ruas do Recife acompanhando o carro do corpo do corpo de bombeiros para a Assembléia Legislativa, onde ficou exposto à visitação pública até a quinta-feira dia 03, às 8:00 horas Dom Hélder Câmara rezou uma missa de corpo presente. O caixão levando o corpo do rei do Baião sai da Assembléia Legislativa às 9 horas e 46 minutos em cortejo para o Aeroporto dos Guararapes e somente às 13 horas e 16 minutos, depois de quase quatro horas percorrendo as ruas e avenidas do Recife, o corpo chega ao aeroporto e embarca com destino a Juazeiro do Norte-CE e de lá seguiu para sua terra natal inspiração para muitos dos seus sucessos, onde o povo com muita tristeza recebia o corpo do inesquecível cantador e tocador de sanfona, para prestar-lhe a última homenagem. Seu corpo foi velado na Igreja Matriz Bom Jesus dos Aflitos, durante toda a noite ficando exposto à visitação pública para que todos seus fãs pudessem prestar-lhe a última homenagem, foi celebrada uma missa de corpo presente pelo Padre Gotardo e em seguida o corpo sai em cortejo pelas ruas de Exu, acompanhado por uma multidão de fãs: jovens, velhos e crianças cantando suas músicas com muita tristeza e dor, até o cemitério São Raimundo onde foi sepultado.

          "Mas quem diria que um moleque bochudo, zambeta, cabeça de papagaio, feio pa peste", acabaria conquistando o mundo como a majestade do Baião.